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Relatório do Artista

Hélio Oiticica filho de José Oiticica Filho, um dos importantes fotógrafos brasileiros, que também era engenheiro, professor de matemática e entomólogo e de Ângela Santos Oiticica. Teve mais dois irmãos (César e Cláudio). A educação de Hélio e seus irmãos começou em sua casa, onde tiveram aulas de matemática, ciências, línguas, história e geografia dadas pelo pai e a mãe. Também teve grande influência em sua formação o avô José Oiticica, conhecido intelectual filósofo, professor, escritor, anarquista e jornalista. No ano de 1947, o pai de Hélio foi premiado com uma bolsa da Fundação Guggenheim. A família se mudou para os EUA (Washington) e seu pai passou a trabalhar no United States National Museum - Smithsonian Institution. Ficam lá por dois anos e Hélio, então com 10, e seus irmãos são matriculados pela primeira vez numa escola oficial (Thomson School). A a proximação com a arte se deu nessa época. Hélio e os irmãos tinham à disposição galerias de arte e museus. A família retornou ao Rio de Janeiro, em 1950, e, em 1952, Hélio começou a escrever e a traduzir peças de teatro que encenava em casa com os irmãos.
Hélio Oiticica é um artista cuja produção se destaca pelo caráter experimental e inovador. Ele aspira á superação de uma arte conformista, elitista, condicionante, limitada ao processo de estímulo-reação, configurando-se como instrumento de domínio intelectual e comportamental. O artista brasileiro redefiniu o conceito do objeto na arte, assim como o conceito do observador da arte, o qual, para o artista, era mais do que um mero espectador, era também parte da arte, uma vez que sua interação complementava a obra.
Uma das suas principais obras foram Parangolé, Tropicália ,relevos espacias, bilaterais entre outras. Parangolé são capas, estandartes, bandeiras para serem vestidas ou carregadas pelo participante de um happening. As capas são feitas com panos coloridos (que podem levar reproduções de palavras e fotos) interligados, revelados apenas quando a pessoa se movimenta. A cor ganha um dinamismo no espaço através da associação com a dança e a música. A obra só existe plenamente, portanto, quando da participação corporal: a estrutura depende da ação. A cor assume, desse modo, um caráter literal de vivência, reunindo sensação visual, táctil e rítmica. O participante vira obra ao vesti-lo, ultrapassando a distância entre eles, superando o próprio conceito de arte.

Tropicália é a primeira tentativa consciente, objetiva, de impor uma imagem obviamente brasileira ao contexto atual da vanguarda e das manifestações em geral da arte nacional. A Tropicália era um labirinto construído com uma arquitetura improvisada, semelhante às favelas, um cenário tropical com plantas características e araras. O público caminhava descalço, pisando em areia, brita, água, experimentando sensações, no fim do percurso se defronta com um aparelho de TV ligado, um símbolo moderno. A nova imagem do Brasil, os meios de comunicação de massa contrastando com a miséria nacional. Polarizações e impasses da sociedade, da cultura, da estética e da política da arte nos anos de 1960. Radicalidade e experimentação que impulsionou as artes plásticas para o exercício da contemporaneidade.

Nos relevos espaciais a participação do espectador ocorre pela vivência visual da cor, e o plano se torna elemento ativo em uma dinâmica estrutural, lançando-se no espaço tridimensional. São placas de madeira pintadas e presas ao teto por simples fios. O jogo entre a cor, o vazio e sua expansão configuram um espaço autônomo. O espectador deve vivenciar a obra, girando e movimentando-se a sua volta. É a vivência da cor. Através desta experiência, Oiticica desenvolve uma nova compreensão da arte fundando a obra na própria relação com o sujeito, em um auto-reconhecimento do sensível.

Obra Cosmococa:


Á época em que residiu em Nova York, no início dos anos 1970, Hélio Oiticica trabalhou em parceria com o cineasta Neville D’Almeida na criação de instalações chamadas de “quasi-cinemas”. A galeria é o conjunto de cinco salas expositivas, todas compostas por projeções nas paredes, em alguns casos também no teto, e possuem diferentes trilhas sonoras, que submetem ao expectador a experiências multissensoriais. As salas são escuras e estão ligadas a um hall, sobre o qual se encontra toda área técnica( a parte de máquinas do ar condicionado e os equipamentos áudios-visuais) necessários para a instalação da obra. O edifício é uma intervenção radical na topografia que reforça sua presença ambígua como um artefato de pedra construído, quando visto de baixo, e como uma cobertura verde que é uma continuidade da paisagem com sutis limites ortogonais, quando visto do alto. Os quasi-cinemas, representam o ápice do esforço que Oiticica empreendeu ao longo de sua carreira para trazer o espectador para o centro de sua arte.
Ao chegar ao local da obra me deparei com um paredão de pedras, parecendo um labirinto, me instigando a entrar e a explorar o edifício. Na entrada deixei meu sapato e imediatamente senti a mudança de ambiente bastante gelado. Em uma de suas salas Oiticica utiliza balões, amarelos e laranjas, e ao entrar nela percebi várias deformações no chão, slides projetando capas de revistas, capas Lps e cds redesenhados com uma fina linha de cocaína e músicas altas. As salas de colchões, redes e almofadas com formatos geométricos, proporciona relaxamento e diversão, podendo ser compartilhada e sentida com outras pessoas ao seu redor. Também há uma piscina que é iluminada com luzes verdes e azuis, podendo ser disfrutada por quem quiser entrar. Hélio Oiticica cumpriu com seu objetivo fielmente ao propor uma obra que se comunica e envolve com o público. Há uma imersão e só quem vivencia a obra sabe explicar as sensações que ela concede.


